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quarta-feira, 11 de junho de 2014

NOTURNO IV



Os grandes animais invisíveis e silenciosos da insônia
Vigilam meu corpo para me devassarem.
Adivinho que são felinos por sua incansável paciência.
Enfaixo-me de medo como um faraó em seus panos
[mortuários.
Inúteis conchas acústicas
Os meus ouvidos têm no escuro a angustiosa forma de
[um ponto-de-interrogação,
Mas ainda escuto. Até o grande relógio-de-pêndulo
[parou.
O tempo está morto de pé dentro dele como um chefe
[asteca.
Tento imaginar-lhe o rosto cheio de rugas como o solo
[gretado de um deserto.
Os felinos farejam-me...
Antes eu estivesse morto e não sentiria nada...
Mas
A primeira coisa que um morto faz depois de enterrado
É abrir novamente os olhos...
Como é que eu sei disso, meu Deus?!
Tão fácil acender a luz... Estendo a mão
Para a lâmpada de cabeceira e toco
Uma parede fria
Úmida
Musgosa...


Mario Quintana
In Baú de Espantos

 

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