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domingo, 26 de janeiro de 2014

EPÍSTOLA AOS NOVOS BÁRBAROS


Jamais compreendereis a terrível simplicidade das minhas palavras
porque elas não são palavras: são rios, pássaros, naves...
no rumo de vossas almas bárbaras.

Sim. vós tendes as vossas almas supersticiosamente pintadas,
e não apenas a cara e o corpo como os verdadeiros selvagens.

Sabeis somente dar ouvido a palavras que não compreendeis,
e todos os VOSSOS deuses são nascidos do medo.

E eu na verdade não vos trago a mensagem de nenhum deus.
Nem a minha...

Vim sacudir o que estava dormindo há tanto dentro de cada
um de vós,
a limpar-vos de vossas tatuagens.

E o frêmito que sentireis, então, nas almas transfiguradas
não será do revôo dos anjos... Mas apenas
o beijo amoroso e invisível do vento
sobre a pele nua.


Mario Quintana,
in Baú de espantos

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