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domingo, 24 de novembro de 2013

CONFESSIONAL




Eu fui um menino por trás de uma vidraça - um menino
de aquário.
Via o mundo passar como numa tela cinematográfica,
mas que repetia sempre as mesmas cenas, as mesmas
personagens.
Tudo tão chato que o desenrolar da rua acabava me
parecendo apenas em preto-e-branco, como nos filmes
daquele tempo.
O colorido todo se refugiava, então, nas ilustrações
dos meus livros de histórias, com seus reis
hieráticos e belos como os das cartas de jogar.
E suas filhas nas torres altas - inacessíveis princesas.
Com seus cavalos uns verdadeiros príncipes na
elegância e na riqueza dos jaezes.
Seus bravos pajens (eu queria ser um deles...)
Porém, sobrevivi...
E aqui, do lado de fora, neste mundo em que vivo,
como tudo é diferente! Tudo, ó menino do aquário,
é muito diferente do teu sonho..
(Só os cavalos conservam a natural nobreza.)

Mario Quintana,
in A vaca e o hipogrifo







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