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sábado, 24 de agosto de 2013

OLHO AS MINHAS MÃOS



Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do 
fundo do mar...Fechá-las, de repente,
Os dedos como pétalas carnívoras ! 
Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável
do tempo,Que me sustenta, e mata, e que vai 
secretando o pensamento 
Como tecem as teias as aranhas.
A que mundo
Pertenço ?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando 
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada, disso tudo, diz: "existo".
Porque apenas existem...Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos 
Palavras mágicas,
Fazemos 
Poemas, pobres poemas
Que o vento Mistura, confunde e dispersa no ar...
Nem na estrela do céu nem na estrela do mar 
Foi este o fim da Criação !
Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?
Quem faz - em mim - esta interrogação ?
 

Mario Quintana ,
in 80 Anos de Poesia

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